APOGEU POÉTICO CLÁSSICO- CAUSAS SOCIAIS
Homenagem ao patrono da AVL- Poeta ANTÓNIO ALEIXO
Patrono : Antero de Quental
Académico : José Manuel Cabrita Neves
Cadeira : 07
Não acho maior tortura,
Nem nada mais deprimente,
Que ter de chamar fartura
À fome que a gente sente
António Aleixo
GLOSA
Vivendo à míngua de pão
E olhando pr'ás mãos vazias,
Vejo o passar dos meus dias,
A mostrar satisfação
E a mastigar a razão…
Entre a fome e a amargura,
De levar vida tão dura,
Disfarço as minhas carências
E ao viver das aparências,
Não acho maior tortura!
Ter que fingir , escondendo
Dos outros, o que se passa,,
Sorrindo à própria desgraça,
Na côdea que vou roendo
E a definhar me vou vendo,
Quase moribundo e ausente,
Imitando ser valente,
Na fraqueza que me assiste!
Mas não há nada mais triste,
Nem nada mais deprimente…
Do que encobrir a miséria,
Num choro silencioso,
Onde não há sol radioso,
Mas sombra da parca féria,
Que mais parece uma léria,
Gozando co’a desventura,
De ser ‘ma triste figura,
Pois chamar fome e pobreza,
Mais honesto é com certeza,
Que ter de chamar fartura…
Sentado à mesa lamento,
Com as mãos cobrindo o rosto,
A vida agreste, o desgosto,
Que já quase não aguento
Neste triste morrer lento,
Numa alegria aparente,
Ocultando a toda a gente,
Já que a vergonha consome,
Vou-lhe chamando outro nome,
À fome que a gente sente !...
José Manuel Cabrita Neves
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