segunda-feira, 23 de maio de 2016

APOGEU POÉTICO - MODERNO BY JOÃO URAGUE FILHO













Patrono: Fernando Pessoa
Acadêmico: João Urague Filho
Cadeira: 02

EVENTO: APOGEU POÉTICO - MODERNO
Tema: Reflexão

DONOS DO NADA

Nós não somos donos de nada!
Só somos donos do fato incontestável
Do fato absurdo e inexorável
De sermos donos de nada!
Tá danado!
Somos donos pura e simplesmente
De não sermos donos da gente,
Tudo é emprestado!
Tá danado!
Até que a natureza se revolta
E quer tudo de volta!
Tá danado!
A vida é como se fosse um crediário qualquer
Que a gente vai tirando e debitando
Vai tirando e vai devendo
Até que um dia verificamos
Que já comemos e bebemos
Que já discutimos e nos calamos
Que já sorrimos e choramos
Demais! Tá danado!
Parece mentira que o riso e o pranto
O sonho e a desilusão
Sejam caros demais!
Tá danado!
A vida vem a ser uma mochila
Dessas onde a gente vai guardando
A saudade e a esperança
O sonho e o desengano...
E quando a gente menos espera
Tá pesada demais!
Sacoleja nas costas
De feridas postas...
Afrouxa e cai!
... E a gente parte e se reparte
Em duas partes iguais
Só que uma a terra come
Mas a outra... Essa voa
Contempla a carne ainda fresca no caixão
Faz um gesto de desdém
E vai para nunca mais...
Segundo a lenda que me contaram os profetas:
Amém!
A morte é um gato que espreita
Os ratos que somos nós
De patinha dianteira, certeira,
Alevantada e tudo! Tá danado!
Mas das angústias a pior
É aquela transa toda
Com a emoção do próximo momento.
Será que vai ser agora ou daqui a pouco?
Hoje, amanhã ou depois de amanhã?
Sairei ileso dessa ou serei atingido?
Se a arma está apontada para mim
Quando detonará o tiro?
Será que vai ser lenta ou abruptamente?
Porque com alguns o gato come num repente o rato
Mas com outros o gatinho treinado e jeitos
Balança o rabo e dá carreirinhas tontas
Brinca de dar tapinhas com as unhas
Afiadas para esse fim
E depois quando cansa de brincar
Vai em dentadinhas lentas
Devorando devagar! Tá danado!
... E eu que nem compro fiado
Porque não gosto de ser cobrado
De repente devedor
De toda dor que doeu
De todo pranto vertido
Da chicotada que ardeu
No ontem que foi perdido!
Tá danado!
Nós somos donos do nada!
Donos do inesperado e do improviso
Da incerteza do próximo momento
Da certeza de tudo aquilo que já passou.
Somos donos mesmo é do gemido
Desse gemido que gememos juntos
E vamos contando um a um
Até chegar o miserável grito.
O futuro é sempre o mesmo, ainda bem!
Todos arderemos juntos... Amém!




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