quinta-feira, 21 de julho de 2016



Patronesse : Natália Correia
Acadêmica : Ana Carvalhosa
Cadeira: 32
O MEU PATRONO VISTO POR MIM


Um ser multifacetado, com capacidade de enfrentar o mundo que se lhe apresente à frente, na sua rotina do quotidiano, social e cívico, assim o demonstra no seu poema: A DEFESA DO POETA, onde pretendia dizer a viva voz, em pleno tribunal este seu escrito, mas aconselhada pelo seu advogado, não o fez.
Neste poema mais uma vez verificamos a personalidade de Natália Correia, temos a referência ao regime ditador onde cresceu e vivia, "...Sou em código o azul...".
Para mim é a referência do julgamento social a jeito de sátira, referindo-se ao poeta como um ser que não escolhe ser, é-o simplesmente, com maior ou menor pujante de o querer demonstrar, mas seja o que for, a poesia é para fazer sonhar quem a ler, por isso, escreve, sucintamente e arrematando tudo e todos: "...ó subalimentados do sonho! / a poesia é para comer."
Como devoradora de letras, vou aproveitar tão deleite sobre_mesa.


ana'Carvalhosa
16.07.16
.
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto


Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim


Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes


Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei


Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em criança que salvo
do incêndio da vossa lição


Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis


Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além


Senhores três quatro cinco e Sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?


Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa


Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.


"A defesa do poeta", Poesia Completa, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2000, pág. 330


(nota em rodapé: "Compus este poema para me defender no Tribunal Plenário de tenebrosa memória. O que não fiz a pedido do meu advogado que sensatamente me advertiu de que essa insólita leitura no decorrer do julgamento comprometeria a defesa, agravando a a sentença."
.
sobre_mesa


toalha estendida na relva da vida
jardim de mim semeado e regado
quer teu corpo esteja aceso ou apagado
no meu o olhar é e será sempre o sono
que eterno minha tábua me deu
pesquisar na raíz quadrada de sentir
mais um momento e voltar à fuga
como formiga pisar o recheio doce
que enfeita o piquenique na tarde
e tombar como folha seca de malmequer
na tua mão ou olhar como colher
...
©ana'Carvalhosa


16 jul 16


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