sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017





APOGEU POÉTICO AVL

"CELEBRANDO O ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO POETA ANTÓNIO ALEIXO, PATRONO DA AVL".

Patrono: Florbela Espanca
Académica: Maria João Brito de Sousa
Cadeira: 06


ONDE NASCERAM A CIÊNCIA E O JUÍZO?

MOTE

- Onde nasceu a ciência?...
- Onde nasceu o juízo?...
Calculo que ninguém tem
Tudo quanto lhe é preciso!

GLOSAS

Onde nasceu o autor
Com forças p'ra trabalhar
E fazer a terra dar
As plantas de toda a cor?
Onde nasceu tal valor?...
Seria uma força imensa
E há muita gente que pensa
Que o poder nos vem de Cristo;
Mas antes de tudo isto,
Onde nasceu a ciência?...
*

De onde nasceu o saber?...
Do homem, naturalmente.
Mas quem gerou tal vivente
Sem no mundo nada haver?
Gostava de conhecer
Quem é que formou o piso
Que a todos nós é preciso
Até o mundo ter fim...
Não há quem me diga a mim
Onde nasceu o juízo?...
*

Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo.
Mas esses não sabem tudo,
Também vivem enganados;
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem.
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário...
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem.
*

Ao primeiro homem sabido,
Quem foi que lhe deu lições
P'ra ter habilitações
E ser assim instruído?...
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso:
- Eu nunca desvalorizo
Aquel' que saber não tem,
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso!
*

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

***

RESPOSTA(S)

"- Onde nasceu a ciência?...",
Perguntaste abruptamente...
Respondi: - Nasceu de gente
Que viu pr`além da aparência...
Teve, a questão, pertinência
E eu fiquei muito contente
Por saber ter pela frente
Alguém cuja inteligência
Já roçava uma insurgência
Ampla, profunda, abrangente.
*

"- Onde nasceu o juízo?..."
Perguntaste-me a seguir,
Melhor qu`rendo discernir
Se a resposta era um sorriso,
Ou se o dissertar conciso
Que o verso me permitir...
Sem sequer ousar sorrir,
Respondi com muito siso:
- Ah, não foi no Paraíso,
Nem nos´sonhos de dormir`!
*

"Calculo que ningúem tem"
Melhor forma de explicar
Que o juízo não tem lar,
Ninguém sabe de onde vem,
Nasce em todos nós, também,
E não se pode expulsar
Essa coisa de ajuizar 
Que serve o mal e o bem...
Ninguém o sabe, ninguém!
Nem quem julga não julgar!
*

"Tudo quanto lhe é preciso"
É, contudo, equilibrar-se,
Ir aprendendo a julgar-se 
A si mesmo, a ser conciso,
Em vez de armado em Narciso,
Julgar e, depois, gabar-se...
É questão de moderar-se
Porque, aos fracos, nunca eu piso;
Sem condenar, estudo e gizo
Se algo pode aproveitar-se...
*

Maria João Brito de Sousa - 17.02.2017 - 12.54h

NOTA - Poema glosado em décimas, a partir do mote original de António Aleixo.

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