quarta-feira, 27 de julho de 2016

Patrono: Carlos Drummond de Andrade Acadêmica: Mírian Cerqueira Leite Cadeira: 12


EVENTO : MEU PATRONO VISTO POR MIM

Meu fascínio por Drummond me revelaram um amor à primeira vista e a validade da identificação.
Portador de irreverente criatividade e domínio da língua que lhe permite o suporte da sua linguagem. Drummond ainda criança foi expulso pelos jesuítas do Colégio Anchieta por insubordinação mental. Seus escritos mostram a incessante busca do sentimento do mundo. Tudo é banhado pela luz de sua criação através da criação. Nada escapa de seu fazer poético! Transfigura a alquimia do verbo e vai além. Nada é tão pequeno que não possa poetizar. Vejamos no POEMA DO JORNAL / O fato não acabou de acontecer / e já a mão nervosa do repórter / o transforma em notícia. / O marido está matando a mulher. / A mulher ensanguentada grita. / Ladrões arrombam o cofre. / A polícia dissolve o "meeting". / A pena escreve. / Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.
Aos 22 anos se aproxima de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. E vai além do modernismo!
Publica em 1928 o célebre poema "NO MEIO DO CAMINHO", na Revista de Antropofagia. Neste poema acontece uma separação entre o que há e a sua poesia pessoal que se caracteriza pela filosofia do cotidiano e a primazia da objetividade.
Chefe de gabinete do ministro da Educação, Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, e dono de vida reclusa e metódica de burocrata, Drummond mostrava o contraste no espírito insubordinado de sua poesia.
Solitário, revela esta solidão no POEMA DAS SETE FACES: "Vai, Carlos! ser "gauche" na vida."
Cria e recria a própria vida.
Minha homenagem vai em forma de poema sobre o seu poema:
"A EXCITANTE FILA DO FEIJÃO"

Larguei tudo, poeta e fui à fila do feijão.
Cedinho como disseste.
E sem certeza de trazer dois quilos...
Mas tive esperança de uma vida inteira.
Tu bem me orientaste,
o tempo não importa.
Sei que o feijão é de todos
assim como a liberdade
o amor
o ar
mas há que tudo isto conquistar.
Insisti e não desisti.
Amanhã outros quilos serão distribuídos
e é isto que torna
a busca excitante
do grão negro que ambiciono.
Comer é um projeto e há gritos
há desmaios
há prisões...
Que grande aventura Carlos!
Que cotidiano é esse, dramático, que pede e grita:
Feijão! Feijão, ao menos um tiquinho!
Olha isso, poeta...
Caldinho de feijão para as crianças...
Feijoada, essa não: é sonho puro,
mas um feijão modesto e camarada
que lembre os tempos tão desmoronados.
Pois é, Carlos!
Esperar é o que vale
e esse povo sabe
enquanto leva as suas bordoadas
e digo: Tu o disseste
há tempos
e hoje é isto que ainda acontece.
Teu recado vou seguir
largo tudo
largo o verso comedido,
largo a paz do meu jardim vocabular,
e vou lá
sofrer na fila do feijão.
Com sua licença e seu perdão.
Mírian Cerqueira Leite



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