José Manuel Cabrita Neves

MEU PATRONO VISTO POR MIM

Patrono : ANTERO DE QUENTAL

Académico : José Manuel Cabrita Neves

Cadeira :07

Numa análise superficial da personalidade de Antero de Quental, sou levado a vê-lo entre o profeta inspirador de uma nova aurora e o psicopata que desesperadamente põe termo à vida.

Havia em si um dualismo contrastante entre o revolucionário utopista que pela via da razão «irmã do amor e da justiça» quer salvar a humanidade e o neurótico que se entrega ao sofrimento «Eu sempre bendirei esta tristeza!».

Não é fácil defini-lo em concreto pois ele nos seus sonetos ocupa e está presente em dois mundos completamente antagónicos; por um lado, um olhar optimista e positivo sobre o mundo e por outro, a expressão da mais radical negatividade ou descrença quanto a esse mesmo mundo.

Tão depressa é o Antero pensador e apóstolo entusiasta iluminado de uma revolução, como é outro Antero: nocturno, doentio e minado por um pessimismo advindo de um corpo infinitamente afligido, vítima de uma tortura ininterrupta e diabólica.

A sua poesia revela (influências de uma época de romantismo) uma ausência da carne, na exaltação do sentimento amoroso, mostrando uma visão casta e puramente espiritual das mulheres.

O seu temperamento é um vendaval de emoções, sendo místico como poeta e crítico como filósofo, daí que o misticismo e a metafísica; o sentimento e a razão; a sensibilidade e a vontade; o temperamento e a inteligência, inevitavelmente se combatem no seu íntimo revelando um estado constante de revolta advindo da sua genialidade.

Ninguém diria que dentro desta amálgama de contradições habita um homem fundamentalmente bom, conversador como poucos, fácil, espontâneo , original e sugestivo, irónico, humorista, e espirituoso, mas assumidamente um guerreiro, combatendo com argumentos sustentados em qualquer discussão os seus pontos de vista até sair delas vencedor!.

José Manuel Cabrita Neves

Carnaxide, 3 de Setembro de 2015