quarta-feira, 27 de julho de 2016

Patrono: Charles Baudelaire Académico: Moisés A. Jalane Cadeira: 15


EVENTO : MEU PATRONO VISTO POR MIM

Prezados leitores, confrades e confreiras, com o vosso perdão: hoje, não irei de encontro com o programa... estou aqui, fora da mão, tentando me preparar para o exame semestral.
Ademais, para não me passar despercebido, vou colar aqui uma analise muito boa que achei dum dos poemas do meu patrono Baudelaire; até breve :-)

As Janelas

Aquele que olha de fora através de uma janela aberta, não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça.Neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.

Para além do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, já com rugas, pobre, sempre debruçada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando.

Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade.

E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que não eu mesmo.

Vocês talvez me digam: "Tem certeza de que esta lenda é a verdadeira?" Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?

Charles Baudelaire

O poema em prosa "As Janelas" sugere no seu título um conflito de realidades, já que a janela por si só é um objeto de contato de dois mundos diferentes, o de fora e o de dentro.

No primeiro parágrafo, o eu-lírico deixa transparecer sua opinião ao argumentar que prefere as janelas fechadas, pois estas nos permitem enxergar além daquilo que existe de fato ("Aquele que olha de fora através de uma janela aberta, não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada"). As janelas abertas, iluminadas, nos mostram apenas o que há do lado de fora, ou seja, o mundo exterior, real, enquanto as janelas fechadas, pouco iluminadas, exatamente por sua imprecisão, nos permitem enxergar dentro de nós mesmos, enxergar um mundo interior, muito mais amplo, onde podemos viver, sonhar e sofrer a vida("O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça").

É diante de uma janela fechada que o eu-lírico avista uma mulher e com base em alguns detalhes, algo na aparência, um gesto, quase nada, ele é capaz de imaginar uma história para ela, uma história que o emociona ("Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando"). Ele ainda diz que fosse ela (a mulher) um pobre homem, seria igualmente fácil recriar sua história ("Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade"), pois a realidade nos detalhes pouco importa, a importância dos detalhes consiste em ser o ponto de partida para a inspiração do eu-lírico; aquilo que o transporta à um novo mundo, um mundo que não se prende às realidades, o mundo dos pensamentos.

Depois de ter vivido e sofrido em outros através das histórias criadas, o eu-lírico se sente realizado e feliz, pois mesmo que as experiências vividas nas histórias não tenham acontecido com ele de fato, ele foi capaz de se emocionar e aprender com elas; feliz também por conseguir enxergar outras realidades que não apenas as dele mesmo, ampliando seu universo interno e externo ("E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que não eu mesmo").

No último parágrafo, o eu-lírico dialoga com o leitor, supondo que este lhe pergunte acerca da veracidade das histórias ("Vocês talvez me digam: 'Tem certeza de que esta lenda é a verdadeira?'"), ao que o eu-lírico prontamente responde: "Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?". A veracidade das histórias que criamos não importa pois o real objectivo delas é o de ajudar na compreensão da vida e de nós mesmos.

O autor monta o texto em cima de oposições, antíteses, que ficam presentes em nossa mente do início ao fim da leitura, sendo a principal o par "janela fechada versus janela aberta", que dá margem às antíteses que se seguem, reforçando essa oposição: "mundo interno versus mundo externo", "realidade versus sonho", "escuro versus claro", "preciso versus vago", "pensamentos versus acções". Todas estas antíteses caracterizam a janela fechada (mundo interno, sonho, escuro, vago, pensamentos) em oposição à janela aberta (mundo externo, realidade, claro, preciso, acções).

Bibliografia:

-BAUDELAIRE, Charles. "Pequenos Poemas em Prosa";Florianópolis, 1988.

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Aluno: Giselle Roza Accampora
Dre: 108062528
Turma: LEB



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