domingo, 16 de outubro de 2016

MEU PATRONO VISTO POR MIM – JOSÉ LEITE GUERRA

Patrono : Manoel de Barros
Acadêmico : José Leite Guerra
Cadeira : 05
Meu Patrono Visto Por Mim

MANOEL, POETA DA TRANSFIGURAÇÃO

Manoel de Barros é um erudito em captar a dimensão filosófica da natureza. A acuidade do poeta curitibano está no congraçamento e na exploração do invisível contido nas motivações de seus temas.
Considerado por uns como primitivo. Concordo. Mas, melhor o classifico como poeta primitivista, pintor de ritmos e fluorescências como poucos. Em seus traços de forma e conteúdo consegue harmonizar um “colorido” literário, dentro de uma movimentação exótica ou ex-ótica (fora da ótica ortodoxamente classificada). Seriam poemas naifes? Deriva, tartamudeia o facilmente apreensível, confunde estilísticas bem alinhadas, bem compostas e confortavelmente assentadas em regras e mandamentos retilíneos. Um explorador de novidades, um mágico que puxa palavras de nadas e as transforma em tudos. Um percuciente malabarista que sacode na página a genialidade de estilo afrontoso, muitas vezes. Tal inquietude de Manoel de Barros nos lembra a de alguém que sabe o que elabora, todavia se deixa ingressar num “ambiente psicológico” em comunhão com a natureza mais sublime ofertada pela fauna e pela flora. Ou pela criança que saltita em sua alma larga, sem medo de quebrar jarros de paradigmas.
O universo manuelino merece melhor atenção. Poeta de grandeza sublime. Maior ou menor? Nem uma coisa nem outra. Apenas um poeta diferente com poemas diferenciais. Largado no entorno de si mesmo procura no cenário natal, o que muitos classificam como “surrealismo pantaneiro”, ou seja, o pantanal visto pela lente criativa de Manoel de Barros não se torna unifocal, porém ressurge, qual inúmeras aquarelas foto-poéticas que se deitam em inimitáveis contornos dados pelo bardo a seus escritos imortais. Explora curiosamente a riqueza íntima da convivência dos abundantes e ricos cenários visíveis e os transforma em metáforas.
Tal cruzamento de ambiências íntimas, do metamorfosear a matéria para dela fazer surgirem elaborações literárias de equilíbrio e bom gosto, vemos como a tônica predominante na quase totalidade da obra: a espontaneidade, o primitivismo (no sentido de simplicidade expressiva), o surrealismo que delineiam o pensar filosófico-telúrico do que pretende deixar registrado no que escreve.
Manoel de Barros, um excêntrico, capaz de modificar costumeiros enunciados literários em novíssimos ecos capazes de descentralizar ou desbancar a retilineidade a que se agravam certos modelos ultrapassados. A obra manuelina é paradigmática no concernente a estabelecer uma inovação na construção do poema, não para contrariar ou contradizer uma maneira de escrever poemas, porém para enaltecer a capacidade sem limites de jogar com a Poesia, traduzindo-a em expressões e impressões renovadoras.



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